quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Descida Falhada


Ficha de Leitura nº 1
Unidade de Ensino: Reprodução e manipulação da fertilidade
Conteúdo/assunto: A criptorquidia pode afetar a fertilidade masculina

Resumo: A não descida dos testículos, durante a gravidez, ou criptorquidia, pode afectar a fertilidade, abrir caminho a um cancro. A cirurgia torna-se imprescindível para resolver o problema e deve até aos dois anos de idade.
Fonte: Farmácia Saúde, Junho de 2008

É o que acontece quando, durante a gravidez, um dos testículos (ou ambos) permanece recolhido no abdómen. Uma situação que pode afetar a fertilidade, abrir caminho a um cancro e que se
ultrapassa com cirurgia.

Chama-se criptorquidia a esta condição que, naturalmente, só afeta os bebés do sexo masculino: a não descida de um ou ambos os testí­culos é mais comum nos prematuros, estando presente em cerca de 30 por cento dos casos, mas também ocorre nos nascidos de termo, embora com uma incidência menor, próxima dos três por cento.
Os testículos - órgãos que produzem os espermatozóides e sintetizam a testosterona, hormona sexual masculina - formam-se no abdómen e só pelo sétimo ou oitavo mês iniciam a sua migração descendente para o escroto, a bolsa onde ficam alojados. Contudo, nalguns bebés essa descida não acontece, permanecendo os testículos na região in­ferior do abdómen, ou é interrompida, situação em que ficam presos no canal inguinal. Seja como for, não alcançam o escroto.
Não se sabe exactamente a razão desta descida falhada que, normal­mente, é detetada nos primeiros exames a que o bebé é submetido após o nascimento. O pediatra consegue sentir se os dois testículos estão alojados no escroto ou se falta algum, o que desencadeia tes­tes posteriores no sentido de o localizar no abdómen. Na maioria dos casos, a criptorquidia envolve apenas um dos testículos. Quando ambos estão ausentes, pode estar-se perante um caso de genitália ambígua ou ambiguidade genital, caracterizada pela indefinição dos carateres sexuais.
Fertilidade ameaçada
Um testículo cujo percurso até ao escroto não se cumpriu durante a gestação pode ainda descer após o parto: assim acontece em cerca de metade dos casos, até ao primeiro ano de vida mas, quase sempre, nos primeiros seis meses. A partir daí, a situação deve ser corrigida pois existem várias complicações associadas. A infertilidade é uma delas: a temperatura do abdómen, mais elevada do que no exterior do corpo, pode inibir a produção normal de espermatozóides, afectando a sua qualidade. É que as células sexuais masculinas precisam de uma tem­peratura inferior para se desenvolverem, o que explica a localização externa dos seus órgãos produtores.
Outra consequência a não menosprezar prende-se com o cancro:
um testículo não descido está mais sujeito ao desenvolvimento de tumores, risco que nunca é completamente eliminado, mesmo após o tratamento.
De natureza diferente, mas igualmente importante, é o impacto a nível da imagem e autoestima: há uma idade, a da adolescência, em que os rapazes tendem a comparar os respetivos órgãos ge­nitais, facilmente sendo alvo de comentários depreciativos os que apresentam características diferentes; mais tarde, esta situação pode refletir-se na vida sexual.
Uma cirurgia essencial
Dadas as complicações da criptorquidia, o tratamento é imprescindí­vel, colocando-se duas opções: o recurso a hormonas para estimular a descida do testículo ou a cirurgia. Este é um procedimento simples, efetuado sob anestesia geral mas que não costuma requerer interna­mento. São feitas duas pequenas incisões - uma na virilha e outra no escroto, de modo a manipular o testículo até ao seu destino natural. Após a cirurgia, a recuperação faz-se em casa, sendo que nos primei­ros tempos é preciso acautelar o risco de deslocamento do testículo: assim, há que evitar as brincadeiras que possam exercer pressão sobre os genitais, nomeadamente andar de triciclo.
Os dois anos são a idade considerada limite para efetuar esta cirurgia - orquidopexia - de modo a preservar ao máximo a função do testí­culo, sobretudo o seu potencial de fertilidade. Um risco se mantém, no entanto: o de cancro testicular na idade adulta, pelo que o homem deve submeter-se a vigilância clínica regular.


In Farmácia Saúde, Junho 2008